quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Memória e Cinema



 

O cineastas francês Alain Resnais é um homem obcecado pelo tema memória. Duas de suas principais obras, O ano passado em Marienbad (1961) e Horoshima mon amour (1959) são retratos poéticos de sua obsessão. Como analisou Deleuze (2005), trata-se de uma simultaneidade de um presente de passado, de um presente de presente, de um presente de futuro, "que tornam o tempo terrível, inexplicável".

O reencontro de um homem e uma mulher um ano depois em Marienbad, ou o tórrido encontro de dois amantes, uma francesa e um arquiteto japonês, na Hiroshima pós 'bomba', como afirma Deleuze, é uma poderosa "imagem-tempo, que substitui a imagem-movimento". De forma que a narração vai consistir em distribuir os diferentes presentes às diversas personalidades, cada uma forma uma combinação plausível, possível em si mesma. No entanto,  todas juntas são "incomposíveis". É necessário  que o inexplicável seja mantido, suscitado.

Um homem insiste com uma mulher sobre um encontro de tiveram no ano passado. Ela não lembra. Ele passa então a descrevê-lo em seus mínimos detalhes, construindo sua memória voluntariamente com a esperança de que ela aceite - lembre! - o seu passado. Um japonês insiste com sua amante francesa de que ela nada sabe sobre Hiroshima! Ela, por sua vez, passa a descrever Hiroshima e disserta sobre tudo que "sabe - lembra!".  Trata-se da dissolução da imagem-ação, ainda Deleuze,  em proveito de uma "arquitetura do tempo", de um "presente perpétuo" separado de sua temporalidade, quer dizer, de uma estrutura privada de tempo. Resnais concebe seus filmes sob a forma de lençóis ou regiões do passado.

2 comentários:

  1. Terrível é pensar que, em um dos caminhos do tempo, talvez todos os nossos encontros sejam plenos em desencontrar. No entanto, talvez em outra dimensão do tempo, como no labirinto de Borges, quem sabe? Talvez tudo seja azul como uma cançao de amor.

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  2. Entre encontros e desencontros, vale a oportunidade de lembrá-los um dia e/ou esquecê-los no outro, o que também é uma forma subliminar de lembrá-los... Talvez Lacan explique...

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