segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O tempo que nos resta: a crônica de um presente ausente


O filme de Elia Suleiman, cineasta palestino radicado na França, "O tempo que nos resta: a crônica de um presente ausente", como o próprio título indica, não trata somente de forma ácida e sutilmente engraçada do conflito Israel x Palestina, mas também da questão da memória no presente. 

O tempo é 1948, logo após a criação do estado de Israel. A partir de então, uma série de pequenas histórias - memórias - autobiográficas de Suleiman desfilam na tela em quatro períodos distintos. Tudo é memória, narrativa, portanto, tudo é permitido, até o humor. Imagens, fotografia, cenários exageradamente belos; pátios de casas com paredes esverdeadas e fontes d'água, enquanto a guerra come do lado de fora. Seu belo pai, fabricante de armas. Sua mãe extremamente suave e  também bela, que passa as horas escrevendo cartas. Um coralzinho de meninas de uma escola de minoria árabe em Israel, cantando o hino da independência. Uniforme azul e bandeirinhas  ao vento. O conflito militar permeia as histórias.

Enquanto isso, o narrador (Elia Suleiman) só lembra e narra, nada mais pode fazer contra o fluxo da história de seu passado e de seu presente no exílio. Enquanto nada se resolve, como sua câmera, permanece estático. Na última história, Elia contracena com sua mãe. É neste momento que se dá , para mim, a "imagem-memória" mais incrível do filme. Sua mãe, velha e doente, passa o dia imóvel na sacada do apartamento. Elia "manipula" sua memória  ao fazê-la ouvir uma antiga canção árabe. A anciã a reconhece e movimenta os pés acompanhando o ritmo da música.

Mas a cidade não é a mesma, em meio a uma tempestade, logo no começo do filme, Elia dentro de um taxi, cujo motorista está perdido, não lembra mais do caminho: "Mudaram a estrada! Onde estão os kibutzes, as fazendas, onde estamos? Esses desastres, a Torá não previu". Num presente ausente, o que fazer com o tempo que nos resta?

2 comentários:

  1. Brilhante interpretação de um filme realmente magnífico. Não podemos esquecer que o futuro está incluído no filme, de maneira sutil, como indica o título. Quanto tempo nos resta? Que tempo nos resta?

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  2. É verdade, ele aponta para um futuro ainda que ausente...rss... Merci.

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